Estratégia de leitura é para despertar interesse nos presos, diz Agepen.
Cerca de 50 detentos usam livros por mês no Presídio de Trânsito.
Se os presos não vão até os livros, os livros vão até eles durante o banho de sol no Presídio de Trânsito de Campo Grande (PTran). No local, as grades que separam a quadra de esportes do corredor de acesso também servem de estante improvisada.
A estratégia de leitura é usada para despertar curiosidade dos internos, segundo a chefe da Divisão de Assistência Educacional da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Elaine Arima Xavier Castro.
“É uma forma de estimular realmente a leitura, onde os presos começam vendo a capa e, posteriormente, se sentem curiosos em lê-los”, disse ao G1.
O preso Jackson Pereira Cavalcante foi um dos alcançados pela iniciativa. Ele diz que aproveita para ler enquanto cumpre pena por roubo. “Uns quatro livros eu já peguei […] mas agora meu livro de preferência é a Bíblia. Gosto muito de geografia, história do Brasil, essas coisas, gosto de ler sobre a nossa América aqui”, contou.
Quem faz o trabalho colocar o material nas grades também está preso do local, Amaral Basana de Oliveira, 37 anos.
Ele usa um carrinho para levar parte dos livros da biblioteca até o corredor e arruma um por um nos espaços entre as grades do pátio. Além dos livros em exposição, os presos também têm acesso à relação de livros da biblioteca.
Oliveira estudou até o 1º ano do ensino fundamental e também é responsável pelo aluguel dos materiais e controle de cada empréstimo. Ele diz que trabalha principalmente por ter o benefício da remissão da pena.
“Faço anotação da cela, nome do interno e nome do livro. O interno tem uma semana para me devolver o livro, aí se ele não devolve, eu entro até a galeria, até a cela onde o interno se encontra aí eu cobro e peço de volta, pergunto porquê não entregou no dia certo. Se foi pelo motivo de não ter terminado a leitura daquele livro eu amplio o prazo para o interno estar me devolvendo”, relatou.
Quando acaba o banho de sol, ele recolhe o material e leva de volta para a biblioteca. O Presídio de Trânsito atualmente tem cerca de 500 livros e média de 50 internos por mês que usam os materiais da biblioteca, segundo a Agepen. A biblioteca da unidade tem enciclopédias, livros didáticos, paradidáticos e de leitura diversa, mas os preferidos dos presos, segundo Elaine, são os de romances e autoajuda.
Ela conta que o estímulo à leitura também influencia alguns presos a estudar e ajudar outros internos. “Temos um preso formado em educação física que empresta os livros didáticos da biblioteca e ensina os não alfabetizados a ler, escrever e na iniciação da matemática”, ressaltou.
Acervo
A iniciativa faz parte do projeto de leitura desenvolvido em todas as unidades prisionais do estado. Atualmente são 28 acervos bibliográficos, divididos em espaços próprios ou locais adaptados, como no PTran. Cerca de 15 mil livros estão catalogados nos acervos dos estabelecimentos penais do estado.
Entre as unidades, o Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho e o Instituto Penal de Campo Grande (IPCG) se destacam pela grande quantidade de livros, sendo este último o que tem maior procura de leitores. Na Penitenciária Estadual de Dourados a oferta de livros também é grande.
Parte do acervo é composta por materiais doados por terceiros. Interessados em fazer doações de livros devem entrar em contato com a Divisão de Educação da Agepen pelos telefones (67) 3901-1438/1439 ou entregar o material diretamente nos estabelecimentos penais.
A Agepen ressalta que as bibliotecas do estado já têm grande quantidade de livros de direito desatualizados e enciclopédias antigas, por isso, o ideal seriam doações de livros de assuntos religiosos, autoajuda, romances e outros tipos.
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